“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.”
William Shakespeare
- Por quanto tempo eu posso segurar isso aqui dentro de mim, sentimento que aperta e me leva a deduções infames e que só acabam comigo?
- Se você tiver o motivo de tua angustia em tuas mãos, porque não comece pensando por si próprio, e deixando as coisas acontecerem, a mágoa vem sempre no final. Diga palavras que vêem a ponta da sua língua, mas que por medo, hesitam ser pronunciadas.
Eu nunca fui muito de me arriscar, sempre evitei o erro, fiz o rotineiro, talvez conheça poucos caminhos e a terra da estrada por onde eu costumava andar, esteja batida pelos meus próprios pés.
Ontem de manhã eu atravessei a rua e olhei pra minha casa, ela é tão comum em meio as demais, tamanho padrão e um jardim até que bem tratado porém mero e sem ornatos.
Disseram me um dia, que quando troco os móveis e as flores do vestíbulo, a casa parece aumentar seu tamanho e renova os olhares de fora. Mas tive medo de renovar a porta e a fechadura expandir, e incitar novos expectadores, os quais levassem minha paz, que apesar da mesmice, eu tinha.
No mesmo dia, repensei e resolvi considerar as hipóteses, eu 'arrisquei', andei por novos caminhos, conheci até a vizinhança, em uma tarde soube em quem posso confiar e pra quem eu devo manter meus portões lacrados.
Plantei as flores mais coloridas e com as melhores essências que pude encontrar, até coloquei uns enfeites. O sol as tocou no fim da tarde e eu achei aquilo tão diferente, brilhou meus olhos. Pintei a fachada com cores que eu achava radicais demais pro meu singelo gosto, mas preferi ver no dia seguinte o resultado. Troquei os móveis por coisas mais modernas e até mais simples a visão da minha mente.
Eu dormi cansado e com o coração acelerado por não saber se o que eu fiz agradava a mim mesmo.
Hoje pela manhã acordei disposto, com o sol batendo no meu rosto talvez me chamando pra ir lah fora. Digamos que aceitei o convite e atravessei a rua como fiz na manhã anterior.
Olhei minha casa, olhei de novo e a vi tão diferente, ela tem com cores vivas, o jardim parece sorrir. A casa tá maior, mais alta, mais funda, cabe tanta coisa nela, posso deitar no chão limpo, abrir meus braços o máximo que posso que não esbarro em nada.
Mas a casa é a mesma!
- Estranho a forma que tudo acontece.
- Não é estranho, sua cabeça evolui se você deixar as oportunidades entrarem nela. Se preciso voltar atrás e recomeçar do zero, eu deixo minhas bagagens sentimentais de lado e volto pra onde eu sempre quis estar, do lado do que eu realmente gosto.
E a casa continua sendo a mesma com todas essas hipóteses, você só precisa escolher o que por dentro dela.